Fradique

Ludíbrio esmaltado

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domingo, 24 de junho de 2007

Os Lumière lisonjeados (ou ultrajados)

A arte cinematográfica não se poderia reduzir, para sempre, a um conjunto restrito e cliché de histórias padronizadas. De facto, tal como tantas outras, esta arte tornou-se uma indústria, cujos produtos são cada vez mais orientados para a atracção das massas – a partir de intrigas estandardizadas e previsíveis, mas «rentáveis», e por isso tão esgaravatadas.
Apesar de tudo, podemos sorver, até com relativa frequência, de verdadeiras obras-primas desta arte. Vários exemplos são dignos de menção e realce, todavia aqui destacarei três (por ordem de estreia): Os Condenados de Shawshank, O Bom Pastor e O Mistério da Estrada de Sintra.
Inspirado na obra de Stephen King, Frank Darabont escreveu para Os Condenados de Shawshank um argumento fascinante, que foi brilhantemente interpretado pelos actores Tim Robbins e Morgan Freeman. Perante esta história de liberdade (epíteto este não paradoxal), o espectador vê-se inicialmente invadido por uma perturbação obsidiante, ao deparar-se com a crueza de uma condenação injusta e, mormente, da vivência prisional num cárcere que reúne os mais perigosos homicidas e meliantes dos Estados Unidos da América. O filme conduz em si mesmo uma completa lição de coragem e de braveza de espírito. O sentimento que nos trespassa no final é, de facto, reconfortante e extremamente pedagógico.
Louvar Eric Roth pelo fiel argumento que produziu para The Good Shepherd é também estritamente necessário. Ditosamente, podemos ainda apreciar uma admirável reprodução da História e dos seus cantos mais abscônditos e obscuros. A intensa malha entretecida no enredo deste filme avassala e surpreende até o mais contido dos públicos – isto pelo modo sólido e não tergiversatório com que a História é objectivamente conduzida.
Sinto-me, por fim, no dever de elevar ao «pedestal das nomeações» o cinema português. É lamentável a intolerância e o descrédito a que votam os portugueses o filme vernáculo. Hodiernamente, atentemos em boas apostas como O Mistério da Estrada de Sintra, que, protagonizado por experientes actores (citem-se António Cerdeira, Rogério Samora, Nicolau Breyner e Gisele Itié), nos integra na obra homónima de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão – o mais vetusto romance policial português. Não só nomeio este filme por ser nacional, mas também e principalmente por se revelar uma portentosa obra cinematográfica (realização de Jorge Paixão da Costa).

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