Fradique

Ludíbrio esmaltado

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Localização: Porto, Portugal

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Blanco

Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos
Em um olho mais límpido

Me olha o que eu olho
É minha criação
Isto que vejo

Perceber é conceber
Águas de pensamentos
Sou a criatura
Do que vejo
Octávio Paz (tradução por Haroldo de Campos)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Alofradique

Não fui alguém. Minha alma estava estreira
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita –
O todo, ou o seu nada.
Fernando Pessoa

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Ser

A ciência não conhece um oitavo do que desconhece. E isto assumo axiomaticamente. O que amo esmaga-se pelo que não amo, por não poder amar.
Às vezes cogito se todo este espectáculo não é um jogo, um esfíngico jogo. E aquilo que mais nos desnorteia é não podermos sequer colocar uma hipótese acerca do que há para além do tangível – por que não igualmente tangível? –, do que há passado isto, sob pena de cairmos numa exasperante inverosimilhança. Claro está que a mais simples e maleável justificação (não será este talvez título legítimo) é também a mais primordial: isto, e tudo mais, é panteísmo, é a imanência divina. Muito já provámos poder ser explicado pela exactidão científica, e estou em crer que é possível varrer por completo todas essas filosofias escorregadias.
Admito que não existe pensamento mais redutor e obsidiante que ultrapassar os limites do Universo com a imaginação – é que mesmo a sua paradigmática «fertilidade» seca, esteriliza-se. Contudo, isso não invalida nem cobre o mister de uma busca exaustiva pela verdade.
Há algo irrevogável: o nosso mundo é exacto. E isso está ao alcance da nossa compreensão, temos que aceitar. Neste universo há inteligência, um saber incomensurável, do tamanho de tudo quanto há. Pensar que de uma putativa explosão inicial só poderia vir o caos, é regredir. Temos só aqui na Terra um sem-número de constantes matemáticas que nos certificam a precisão dos fenómenos, e ainda mais as temos relativas a todo o universo – vejam-se, a título de exemplo, as constantes de Planck e de Stephan-Boltzmann.
Mesmo assim, muitos continuarão a dar-se por vencidos e a render-se ao prazer e conforto de uma explicação não lacunar, fluida e versátil – mas quantas vezes o caminho mais fácil não é o mais fiável! Assim não há mérito. Quanto ao que me toca, nesse comenos, continuarei a observar, reduzido à minha ignorância (mas nem por isso entregue a engodos), sempre desperto.
In dubio, é melhor esperar. Quiçá um dia saberemos quem somos.

domingo, 24 de junho de 2007

Os Lumière lisonjeados (ou ultrajados)

A arte cinematográfica não se poderia reduzir, para sempre, a um conjunto restrito e cliché de histórias padronizadas. De facto, tal como tantas outras, esta arte tornou-se uma indústria, cujos produtos são cada vez mais orientados para a atracção das massas – a partir de intrigas estandardizadas e previsíveis, mas «rentáveis», e por isso tão esgaravatadas.
Apesar de tudo, podemos sorver, até com relativa frequência, de verdadeiras obras-primas desta arte. Vários exemplos são dignos de menção e realce, todavia aqui destacarei três (por ordem de estreia): Os Condenados de Shawshank, O Bom Pastor e O Mistério da Estrada de Sintra.
Inspirado na obra de Stephen King, Frank Darabont escreveu para Os Condenados de Shawshank um argumento fascinante, que foi brilhantemente interpretado pelos actores Tim Robbins e Morgan Freeman. Perante esta história de liberdade (epíteto este não paradoxal), o espectador vê-se inicialmente invadido por uma perturbação obsidiante, ao deparar-se com a crueza de uma condenação injusta e, mormente, da vivência prisional num cárcere que reúne os mais perigosos homicidas e meliantes dos Estados Unidos da América. O filme conduz em si mesmo uma completa lição de coragem e de braveza de espírito. O sentimento que nos trespassa no final é, de facto, reconfortante e extremamente pedagógico.
Louvar Eric Roth pelo fiel argumento que produziu para The Good Shepherd é também estritamente necessário. Ditosamente, podemos ainda apreciar uma admirável reprodução da História e dos seus cantos mais abscônditos e obscuros. A intensa malha entretecida no enredo deste filme avassala e surpreende até o mais contido dos públicos – isto pelo modo sólido e não tergiversatório com que a História é objectivamente conduzida.
Sinto-me, por fim, no dever de elevar ao «pedestal das nomeações» o cinema português. É lamentável a intolerância e o descrédito a que votam os portugueses o filme vernáculo. Hodiernamente, atentemos em boas apostas como O Mistério da Estrada de Sintra, que, protagonizado por experientes actores (citem-se António Cerdeira, Rogério Samora, Nicolau Breyner e Gisele Itié), nos integra na obra homónima de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão – o mais vetusto romance policial português. Não só nomeio este filme por ser nacional, mas também e principalmente por se revelar uma portentosa obra cinematográfica (realização de Jorge Paixão da Costa).

Portugal da angústia

Porquanto, ante a imensidão do mar,
à cabeça da Europa a plêiade
não bastou
se invalidou
Extemporaneamente nos submergimos
na bruma, a chama sucumbiu à prece.

Nascer
meritoriamente Florir
Gorar o desejo
Cair na reminiscência
desta maresia imorredoura...
irreversivelmente Rasar

Povo alquebrado, a imortalidade é ilusão.
Alofradique